Ídolo do Cruzeiro, Tostão analisa futebol e desfaz mitos sobre América e Dadá em novo livro

sexta-feira, 7 de outubro de 2016


Os 7 a 1 da Alemanha sobre o Brasil da Copa do Mundo de 2014 mexeram com muita gente, de várias maneiras. Em um tricampeão mundial, que também é um dos maiores ídolos da história do Cruzeiro, por exemplo, despertou o desejo de fazer uma análise profunda sobre futebol a partir de sua visão. O resultado está no livro Tempos vividos, sonhados e perdidos - um olhar sobre o futebol. Nele, Tostão percorre as últimas seis décadas deste esporte. Para isso, se vale de sua experiência e aprendizado dentro e fora de campo.

De maneira simples, objetiva e bastante didática, Tostão, um mineiro de Belo Horizonte nascido há 69 anos, comenta a evolução tática do futebol no Brasil e no mundo. Não é só isso. Também revela detalhes de sua carreira, encerrada precocemente aos 26 anos por causa de um descolamento de retina, de sua vida como médico e professor - período no qual se afastou do futebol - e sobre sua função atual, de comentaria esportivo.

Inicialmente, Tostão pretendia abordar apenas aspectos táticos e técnicos do futebol em Tempos vividos, que será lançado no próximo dia 19 pela Companhia das Letras (200 páginas, R$ 39,90 e versão e-book por R$ 27,90). Mas diz ter concluído que o livro ficaria "chato".

"Depois da Copa, eu comecei a pensar em contar a história do futebol do ponto de vista técnico, tático, a evolução do futebol no Brasil e na Europa", disse ao jornal O Estado de S.Paulo. "Mas percebi que ficaria muito chato, poucas pessoas se interessam por esses detalhes. Então eu achei melhor misturar com um aspecto pessoal, como se fosse um diário de memórias. E acabei falando também do que aconteceu no período em que fiquei fora do futebol. Fui entrelaçando as coisas", contou.

O resultado foi um livro agradável, e informativo, com destaque para as questões táticas - a origem real do trabalho. Com o estilo franco que sempre o caracterizou, Tostão faz elogios e críticas com naturalidade.

Com base no que viveu, desfaz alguns mitos, como o envolvendo sua transferência do América para o Cruzeiro, onde se profissionalizou, e a convocação de Dario, o Dadá Maravilha, para a Copa do Mundo de 1970. Admite inseguranças, revela desconfianças, curiosidades com fatos famosos, e mal esclarecidos, do futebol, e até algum inconformismo com determinadas situações.

Tostão é bastante crítico com os treinadores brasileiros, que aponta como responsáveis - não únicos - pelo atraso técnico do futebol brasileiro nos últimos 20 anos. "Passamos 10, 15 anos jogando de uma maneira que não existe nos grandes times há muito tempo". Mas dá a eles um crédito. "Agora, estamos recuperando isso (o atraso). Hoje, um time brasileiro tenta jogar com a mesma força coletiva que na Europa".

O craque revela incômodo com os atuais jogadores brasileiros, pela deficiência de lucidez para tomar as decisões técnicas corretas em campo e pela falta de autocrítica. "Isso é ruim porque ele (o jogador) deixa de se desenvolver, de aprender muita coisa. Os europeus se comportam mais friamente como profissionais. O brasileiro mistura muito a parte técnica com sucesso, fama, com o oba-oba".

De volta aos 7 a 1, Tostão - que define a Seleção de 1970 como uma das que revolucionaram o futebol mundial - dedica praticamente dois capítulos ao tema que o instigou a escrever o livro. "Foi um fator tão estranho, tão importante e tão espetacular do ponto de vista futebolístico, que aquilo me estimulou a fazer uma síntese da evolução, para tentar explicar".

Na explicação, ele deixa claro que a derrota para os alemães (não o placar) não foi por acaso. "Foi a mensagem de que as coisas estavam ruins (no futebol brasileiro). Foi uma confirmação do que já se esperava".

Tostão, porém, espreita o futuro com boa dose de otimismo. Considera que há um processo de reação, iniciado após a Copa de 2014 e que envolve vários setores. "Há mudança e conceitos na imprensa, nos técnicos, entre os torcedores. Depois da Copa houve melhoria da parte do jogo coletivo, esta havendo uma onda positiva".

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