Reportagem sobre Jussiê

quinta-feira, 1 de novembro de 2012

Há 8 anos na França, ex-cruzeirense avalia futebol local e o novo rico PSG Atacante do Bordeaux, Jussiê revela redução de gastos nos times locais, fala sobre antigo técnico da seleção do país e diz: 'Gostam de dar chutão' Por GLOBOESPORTE.COM* Bordeaux, França O futebol francês já foi mais poderoso. A época em que os times do país podiam brigar de igual para igual com outros clubes de centros importantes da modalidade, como Alemanha e Itália, já não é uma realidade. Quem diz isso não é nenhum economista, ou especialista da área, mas sim um jogador que atua no futebol local há oito anos e viu essa mudança acontecer: Jussiê. Revelado pelo Cruzeiro, o atleta chegou ao Lens, no norte da França, em 2005, e desde então não saiu mais do país. Em todo este tempo, o atacante viu grandes times serem formados, como o Lyon de Juninho Pernambucano e Fred e, mais recentemente o Paris Saint Germain. Mesmo assim, ele afirma que é tempo de vacas magras, e que apenas um clube pode se dar ao luxo de contar com um plantel para brigar entre os melhores da Europa. - A França está tentando reduzir gastos. Tirando o PSG, que compra o jogador que quiser e na hora que quiser, os outros clubes estão tentando guardar o que tem e aproveitando a base. Nós não temos um grupo grande e jogar várias competições com poucos jogadores não é fácil – falou o atacante, que desde 2007 atua no Bordeaux, atualmente o oitavo colocado do Campeonato Francês e brigando pela Liga Europa. Em entrevista exclusiva ao GLOBOESPORTE.COM, Jussiê critica o estilo de jogo, cheio de chutões, dos times do país, mas afirma que o desejo de atuar por lá vem das péssimas recordações de partidas entre as seleções brasileira e francesa. O atacante também fala como foi a incrível arrancada de 11 vitórias que deu ao time de Bordeaux o hexacampeonato francês, acabando com a hegemonia do Lyon, e revela estar de olho no futebol brasileiro ao elogiar o jovem atacante do Atlético Mineiro, Bernard. Jussie está feliz em Bordeaux e ainda não planeja volta ao Brasil, apesar das propostas (Foto: AFP) Confira a entrevista na íntegra: GLOBOESPORTE.COM: Em 2005 você saiu do Brasil em definitivo. Como foi a sua adaptação à França e ao Lens, naquela época? Jussiê: Cheguei numa região que faz muito frio e foi um verdadeiro teste para sobreviver no país. Os dois primeiros anos foram muito difíceis por conta da língua. Mas queria muito me adaptar. Meu pensamento não era voltar. Fiz bem e já estou há oito anos aqui. Fiz duas temporadas com o Lens, conheci muitas pessoas, mas não tinha muito contato com a cultura francesa. É uma região mais tranquila, mais calma, e muito fria. Eu me adaptei melhor a Bordeaux (chegou ao time em 2007) por conta de uma maneira de ser mais acolhedora da população. Hoje tenho amigos lá, e dá pra ver a diferença de humor entre os dois. Adoro a França, mas, principalmente, adoro Bordeaux. Jussiê veste a camisa do Bordeaux desde 2007, quando saiu da fria Lens (Foto: agência AFP) Antes de chegar à França você havia passado uma temporada no Japão. Como foi sair do Cruzeiro? E, depois, como foi voltar a um time campeão Brasileiro, da Copa do Brasil e do Mineiro? Peguei uma parte dessa trajetória vitoriosa e foi muito gratificante. Estava no começo e no fim. lógico que gostaria de ter participado completamente. Dei minha contribuição da melhor maneira, mas o Vanderlei (Luxemburgo era o técnico do time mineiro na ocasião) não estava me aproveitando. Fiquei feliz com as conquistas do time que me lançou. Eu era jovem, tinha 19 anos e depois que voltei fui aproveitado. Na verdade, o Vanderlei queria que eu ficasse, mas foi uma oportunidade de crescer e ser utilizado, e voltei com o gás todo. Foi bom para todos! Nesse tempo em que está fora do país, quem é o seu principal ponto de apoio? Engraçado você me perguntar isso. Minha infância não foi das melhores, mas passado é passado. Até certa idade, eu não conhecia certas coisas como valores de família. Meu sogro (Roberto Muniz), que eu considero um pai, me ensinou. Só então eu pude me apoiar na minha família. A Vanessa (esposa do jogador) é o meu ponto de apoio. Mas graças a eles dois eu consegui ter uma convivência boa com minha família toda. Eles falam tanto sobre família que eu brinco com eles falando que parecem italianos (risos). Mas quando se é pai tudo fica mais fácil de entender. E eu tenho suporte para quando estou bem e para quando não estou também. Foram eles que me seguraram quando eu defendi o Lens. Realmente não é fácil, parece que você está nascendo novamente, mas graças a essa questão de família eu superei essa etapa. Eles me apoiaram muito. Queria ir para a França ou para a Espanha. A França pois sempre que jogava contra o Brasil a gente tomava um baile, né?" Jussiê Quando você surgiu no Cruzeiro, quais eram os seus sonhos profissionais? Pensava em jogar na França? Eu nunca tive como objetivo principal sair do Brasil. Meu objetivo era jogar em um time grande brasileiro. Meu sogro sempre me motivou para que eu não me acomodasse na época do Cruzeiro. Depois eu passei a querer jogar na Europa e queria ir para a França ou para a Espanha. A França porque sempre que jogava contra o Brasil a gente tomava um baile, né? (risos) O futebol aqui não é dos melhores, e os técnicos daqui não são muito ofensivos. Mas, hoje, no Bordeaux, eu só sairia para chegar a uma equipe ainda maior ou para uma que eu conquistasse muitos títulos. Já não tenho mais a ambição de ir para outra equipe, quero apenas ganhar títulos. Se acontecer de sair, beleza. Só faltou defender a seleção. Eu iria de qualquer maneira, até a pé. Mas é como eu falei, esse negócio de familia é assim. O meu sonho maior é criar meus filhos bem. Dar uma boa educação a eles. Isso acontecendo está ótimo. Como será este ano para o Bordeaux? Quais são as ambições do time para a temporada 2012/2013? Aqui em Bordeaux, eu me machuquei algumas vezes. Então, passei a cuidar mais do meu corpo. Trouxe o Eduardo (fisioterapeuta) para ajudar a mim e ao Henrique (companheiro de equipe e ex-zagueiro do Flamengo) e fizemos uma pequena clínica na minha garagem. Durante esses anos aqui, eu conheci momentos bons, excelentes e ruins. Estamos vivendo uma reformulação. Estamos com a ambição de passar de fase na Liga Europa, mas não é fácil. A França está tentando reduzir gastos. Tirando o PSG, que compra jogador que quiser e na hora que quiser, os outros clubes estão tentando guardar o que têm e aproveitando a base. Nós não temos um grupo grande, e jogar várias competições com poucos jogadores não é fácil. Por enquanto, o discurso é esse, entre os cinco primeiros no Francês e avançar na Liga. O atacante vem sofrendo com algumas lesões nos últimos anos, mas está se cuidando (Foto: agência AFP) Já que você falou do Henrique, como é a sua relação com ele e com o Mariano (ex-Flu) outros brasileiros do time? A relação é ótima. O Henrique já tem uma experiência muito boa na França. E o Mariano se adaptou muito rápido. Um jornalista francês veio fazer uma entrevista comigo sobre a razão de os brasileiros gostarem tanto de Bordeaux. A cidade é tranqüila, pessoas com mente aberta, segurança e tudo mais. O clube proporciona todos os fatores para o trabalho de qualidade, ele cuida de tudo para você (estrangeiro) e sua família. Tem praia perto, montanha para esquiar. Os brasileiros, em geral, se adaptam fácil. Você foi treinado pelo Laurent Blanc, ex-técnico da seleção francesa, entre 2007 e 2010. Como era o dia a dia com ele? Qual foi a participação dele na arrancada para o título, em 2009? Ele é um cara contemporâneo do meio e gosta do jogo moderno. Ele e o assistente queriam jogar bonito, como a Espanha e o Brasil. E isso deu frutos. Eles não queriam o chutão. Aqui na França, eles adoram esse negócio de dar chutão. É uma pessoa bem aberta e muito inteligente. Tem o dom para comandar. Foi campeão do mundo e é uma pessoa bem simples. O auxiliar dele era o cabeça da parte tática, já o Laurent era muito motivador. Preparava mentalmente a equipe, tanto os titulares quanto os que estavam de fora para entrar. No Francês, estávamos fazendo uma campanha regular, mas sem ameaçar o líder, o Olympique de Marselha. A arrancada foi jogo a jogo. Começamos a vencer e ganhar moral. De repente, estávamos na frente. Nos últimos quatro jogos, a gente estava tranqüilo sabendo que a gente ia ganhar por que estávamos jogando muito bem. E essa tranqüilidade se via na cara dos jogadores. A confiança dá para ser sentida pelas atitudes dos companheiros. É como se fosse um vírus. Eles até estão tentando jogar um futebol bonito, mas não estão conseguindo" Jussiê, sobre o PSG O Paris Saint Germain montou um timaço para este ano. Eles são os favoritos para tudo o que disputarem? Realmente, eles estão com muita ambição. Os caras compram quem eles quiserem e quando eles quiserem, como eu já disse. Mas ainda não engrenou porque não é da noite para o dia. Precisa de um período de adaptação. Eles não estão convencendo, mas têm excelentes jogadores, os melhores da França em cada posição. Por isso, a cobrança é muito grande e o investimento foi muito grande. O pessoal aqui quer ver o Barcelona, mas não é bem assim, né? É mais ou menos como o Real Madrid, que monta um ótimo time, tem um ótimo técnico, mas não joga como o Barcelona. O Barça tem os jogadores certos para o que eles querem fazer. Eles até estão tentando jogar um futebol bonito, mas não estão conseguindo. Para ele, o melhor do mundo é o Messi, mas Bernard do Atlético Mineiro um dia chega lá (Foto: Agência AFP) Para você, quem é o melhor jogador do mundo hoje? Faltou alguém na lista da Fifa? Não faltou ninguém, estamos bem representados pelo Neymar, que é o melhor brasileiro hoje, sem dúvidas. Também acho que o Bernard, do Atlético-MG, está jogando muito e um dia vai chegar lá. Mas estamos bem representados. Para mim, o melhor do mundo é o Messi. Mesmo o Cristiano Ronaldo sendo um excelente jogador, mas o Messi, para quem gosta de um futebol mais fino, de classe e ágil. Não tem para ninguém. Pena ele não ser brasileiro. E a volta para o Brasil, está próxima? Recentemente tive uma proposta do Grêmio para voltar ao Brasil, por causa do Vanderlei. Viu como serviu para alguma coisa aquela época de Cruzeiro. O pessoal do Brasil já começou a sondar, porem, é mais perto que eles atacam. Mas eu estou muito feliz aqui. Não é o momento de voltar. * Por Daniel Falcão sob supervisão de Marcos Felipe

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