Quis o destino que uma das maiores felicidades da história do Cruzeiro tivesse, como um dos capítulos principais, um dos episódios mais tristes. O atacante Roberto Batata, titular absoluto do time, morreu em um acidente de carro, durante a campanha que culminou com o título da Taça Libertadores de 1976, o primeiro da história do clube.
O Cruzeiro goleou o Alianza, do Peru, por 4 a 0, no Estádio El Matute, em Lima, no dia 12 de maio. Roberto Batata fez um dos gols. A delegação cruzeirense voltou para o Brasil logo após a partida. Desembarcou no Aeroporto do Galeão, no Rio de Janeiro, pouco antes das 6h, e esperou a conexão para Belo Horizonte até as 11h. Logo após a chegada, Roberto Batata pegou o carro e partiu para Três Corações, no sul de Minas, buscar a esposa Denise e o filho Leonardo, que tinha 11 meses. Os amigos alertaram para o cansaço da longa viagem e o risco de dirigir sem ter dormido direito, mas a saudade de Batata falou mais alto, e o jogador entrou em seu carro e partiu para aquela que seria a última viagem de sua vida.
No quilômetro 182 da Rodovia Fernão Dias, Roberto Batata bateu de frente com um caminhão e morreu na hora. O acidente abalou terrivelmente os jogadores do Cruzeiro e o mundo do futebol. A Federação Mineira de Futebol (FMF) decretou luto oficial de uma semana e cancelou duas rodadas do Campeonato Mineiro. O Cruzeiro só voltou a jogar no dia 20 de maio, novamente contra o Alianza, desta vez, no Mineirão, pela Libertadores.
Cerca de 30 mil pessoas foram ao estádio homenagear o ídolo. A banda da Polícia Militar tocou o clássico "Il Silenzio" antes do jogo e pétalas de rosas foram jogadas na parte direita do gramado, setor onde Batata atuava. Os jogadores em campo também prestaram sua homenagem ao amigo. Ganharam o jogo por 7 a 1. Sete era exatamente a camisa usada por Roberto Batata. Ela ficou estendida ao lado do campo durante todo o jogo.
Veja abaixo imagens do velório de Roberto Batata e uma entrevista do presidente do Cruzeiro em 1976, Felício Brandi, falando do jogador.
Saudade eterna dos amigos
O atacante Palhinha era um grande amigo de Roberto Batata. O artilheiro da Libertadores de 1976 se emociona até hoje ao falar do amigo. Palhinha conta que aconselhou Batata a descansar antes de viajar, mas que, infelizmente, o camisa 7 não quis ouvir.
- Algumas coisas marcantes aconteceram na viagem. Nós estávamos em Lima. No retorno, ele me falou que ia chegar e buscar sua família em Três Corações. Eu falei pra ele descansar e ir depois. A gente tinha chegado às 6h no Rio e ficamos no aeroporto até 11h. O aeroporto estava super lotado, não tinha lugar nem pra sentar. Quando chegamos aqui, ele resolveu pegar o carro e ir pra Três Corações. Foi quando aconteceu o episódio. O Batata era uma pessoa calma, um cara super tranquilo. Ele tinha facilidade pra dormir. Em qualquer pequena viagem, ele sentava no ônibus e já dormia. Eu acho que isso foi o grande problema em relação a isso. Após uma viagem muito cansativa, ele resolveu seguir até Três Corações.
Dirceu Lopes tratava Roberto Batata como filho. O príncipe, que estava no departamento médico, foi o último jogador do Cruzeiro ao ver Batata. Dirceu lembra que Batata passou em sua casa antes de pegar a estrada para devolver uma bolsa, que havia levado para o Peru. Dirceu insistiu para levar Batata até Três Corações, mas o amigo recusou a carona e preferiu dirigir.
- A notícia foi uma tragédia. Foi um golpe muito forte. Eu tive a felicidade de ser amigo dele. O Roberto Batata faz parte da segunda geração de craques do Cruzeiro. A primeira tinha Piazza, Tostão, Raul, Hilton Oliveira e eu. A segunda tinha Batata, Eduardo, Palhinha e Joãozinho. A gente tinha um carinho muito especial por esses jogadores porque a gente já era ídolo deles. O Roberto era muito tímido. Ele era um menino muito bom. A mãe dele me pediu pra tomar conta do filho. Eu tinha esse carinho por ele, o ajudei a comprar um apartamento no prédio onde eu morava. Foi uma amizade muito boa.
Raul Plassmann, um dos mais velhos do elenco na época, conta que todos ficaram muito abalados com a notícia da morte de Roberto Batata.
- O Batata foi um jogador excepcional. Titular do time. Nós fizemos um jogo no Peru, e o Batata tinha um probleminha, que a gente chamava de doença do sono. Ele dormia conversando com a gente, em qualquer lugar. Nós viajamos a noite inteira, ficamos no aeroporto do Rio de 6h às 11h da manhã. Todo mundo morto de cansado. O Batata pegou o carro e foi pra Três Corações. O motorista do caminhão disse que desviou duas vezes e ele veio pra cima. O Palhinha pediu pra ele não viajar e todos ficamos muito preocupados. A notícia veio logo em seguida. Aquilo foi estarrecedor. Ficamos abalados, mas a gente tocou o barco pra gente. Tinha que ser dessa maneira, não dava pra mudar as coisas.
Palhinha não poupa elogios para Batata. Além do lado pessoal, ele fala das inúmeras qualidade do camisa 7 como jogador.
- Dentro de campo, não é preciso falar. Ele tinha uma grande qualidade técnica. Era um grande cabeceador, tinha muita velocidade e inteligência. Como pessoa, era muito alegre e brincalhão, além de ser um cara calmo. Tive a felicidade de conviver com ele em boa parte da minha vida profissional.
Dirceu Lopes conta que após a morte de Batata, o elenco se uniu ainda mais e combinou de lutar pelo título para dedicá-lo ao amigo.
- Para todos nós, foi uma tristeza muito grande. Aqui no Cruzeiro, a gente tinha um ambiente de irmãos. Pelo carinho, pela consideração que todos aqui tinham por ele, nos juntamos e lutamos para ganhar o título e dedicar ao Roberto Batata.
ROBERTO BATATA
Nome: Roberto Monteiro
Data de Nascimento: 24/07/1949
Local: Belo Horizonte, MG
Data de Falecimento: 13/05/1976
Local: Oliveira, MG
Jogos pelo Cruzeiro: 285
Gols:110
Jogos na Libertadores de 1976: 6
Gols: 2
Títulos pelo Cruzeiro: 6
Data de Nascimento: 24/07/1949
Local: Belo Horizonte, MG
Data de Falecimento: 13/05/1976
Local: Oliveira, MG
Jogos pelo Cruzeiro: 285
Gols:110
Jogos na Libertadores de 1976: 6
Gols: 2
Títulos pelo Cruzeiro: 6
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