Especial Libertadores 1976: Palhinha, o artilheiro da fantástica média de gols

quarta-feira, 27 de julho de 2016

Atacante do Cruzeiro fez 13 gols em 11 jogos na campanha do título


A média de 1,18 gol por partida é o sonho de qualquer jogador de futebol e muito rara. Nem os badalados Cristiano Ronaldo e Messi têm esse número na carreira. Em 804 partidas até hoje, o português fez 548 gols, o que dá média de 0,68, enquanto o argentino marcou 508 vezes em 644 partidas, média de 0,79. O próprio Pelé, maior jogador de todos os tempos, teve média inferior ao longo da carreira. O Rei, em 1375 jogos, fez 1285 gols, média de 0,93. Pois, Palhinha, centroavante do Cruzeiro na Libertadores de 1976 fez 13 gols em 11 jogos e foi o artilheiro do time na vitoriosa campanha, que valeu o primeiro título da competição ao clube de Belo Horizonte. A façanha de Palhinha é tão grande que nenhum outro brasileiro igualou o número em uma só edição da competição.


Palhinha começou a carreira nas categorias de base do Cruzeiro e foi um dos maiores jogadores da história do clube. Em 434 jogos, fez 145 gols, em duas passagens. Na primeira, permaneceu na Toca da Raposa até 1977, quando foi vendido para o Corinthians, por um milhão de dólares, na época a maior transação da história do futebol brasileiro. Na segunda, em 1984, conquistou o Campeonato Mineiro, último título da carreira.

Ao todo, Palhinha conquistou oito títulos com a camisa do Cruzeiro, sendo sete mineiros e a Libertadores de 1976. Este título completa 40 anos neste sábado. Para lembrar a data, oGloboEsporte.com fez uma série de matérias especiais, com personagens históricos e fatos marcantes. Entre eles, o artilheiro Palhinha.
GloboEsporte.com - Você terminou a Libertadores de 1976 com 13 gols em 11 jogos e é, até os dias de hoje, o brasileiro com mais gols em uma só edição da competição. Qual o seu segredo para ter números tão expressivos?
Palhinha - Tudo tem relação com o bom ambiente que a gente tinha. A gente era uma grande equipe, com muita qualidade técnica e jogava um futebol ofensivo. Naquela oportunidade, eu fiz 13 gols e o Jairzinho fez 11! Só pra ter uma ideia. Foi um momento de uma alegria, mas ao mesmo tempo tristeza, porque nós perdemos o nosso amado Roberto Batata. Aquilo nos deu mais força ainda pra conquista daquele título. O torcedor jamais esquece desse título tão importante para o clube.
Fale um pouco do Roberto Batata. Como vocês receberam a notícia da morte dele?
- Algumas coisas marcantes aconteceram na viagem. Nós estávamos em Lima. No retorno, ele me falou que ia chegar e buscar sua família em Três Corações. Eu falei pra ele descansar e ir depois. A gente tinha chegado às 6h no Rio e ficamos no aeroporto até 11h. O aeroporto estava super lotado, não tinha lugar nem pra sentar. Quando chegamos aqui, ele resolveu pegar o carro e ir pra Três Corações. Foi quando aconteceu o episódio. O Batata era uma pessoa calma, um cara super tranquilo. Ele tinha facilidade pra dormir. Em qualquer pequena viagem, ele sentava no ônibus e já dormia. Eu acho que isso foi o grande problema em relação a isso. Após uma viagem muito cansativa, ele resolveu seguir até Três Corações. Dentro de campo, não é preciso falar. Ele tinha uma grande qualidade técnica. Era um grande cabeceador, tinha muita velocidade e inteligência. Como pessoa, era muito alegre e brincalhão, além de ser um cara calmo. Tive a felicidade de conviver com ele em boa parte da minha vida profissional.
Um dos lances mais marcantes da campanha de 1976 foi o gol do Joãozinho no jogo final, contra o River Plate. O que você sentiu na hora em que ele bateu a falta e viu a bola entrando? (Na ocasião, o batedor de faltas oficial do Cruzeiro era Nelinho, um dos maiores da história. Joãozinho passou à frente do lateral na hora de cobrança, inesperadamente, e fez o gol do título. Veja o vídeo abaixo)
- Essa falta foi feita em mim. O beque do River me derrubou quando eu ia em direção ao gol. O River estava formando a barreira e a bola estava no chão. O Piazza estava perto, com o Nelinho se aproximando de mim. Eu pedi ao Piazza para tocar a bola rápido pra mim. Foi quando veio o Joãozinho, de forma irresponsável, entrou na frente dos dois e bateu a falta que deu o título tão sonhado pelo torcedor. O interessante é que o Joãozinho nunca tinha batido uma falta antes e nunca bateu depois. Naquele dia, um espírito baixou no corpo dele. Só pode ser isso. (Risos)
Quais são suas principais memórias daquele time de 1976 e da campanha da Libertadores?
- São as melhores possíveis. O maior reconhecimento disso é o torcedor jamais esquecer desse título. Naquela época, só o Santos de Pelé havia ganhando a Libertadores. Foi um título muito importante. Em 1975 nós fomos eliminados na semifinal e em 1976 fomos campeões e foi um marco para o clube. A gente fica muito orgulhoso quando, hoje, o torcedor se aproxima e fala que nunca esqueceu do que fizemos pelo Cruzeiro na Libertadores de 1976.
Os jogadores eram muito amigos. Isso também contribuiu para o bom desempenho do time dentro de campo?
 Naquela época, o futebol não tinha tantas transferências. O jogador chegava ao clube e começava no juvenil e normalmente ficava mais de cinco anos. Isso tinha uma influência muito positiva em relação a amizade. A gente convivia muito, não só dentro de campo, mas fora também, com as famílias.
O que você acha do futebol de hoje?
- Eu vejo o futebol hoje com um pouco de tristeza porque a qualidade caiu muito. Não é viver do passado, mas naquela época todos os clubes de Rio, São Paulo, Porto Alegre, Recife e Belo Horizonte tinham pelo menos cinco, seis jogadores de alto nível. Hoje, infelizmente, isso não acontece, a qualidade caiu muito.
Como é sua relação com os torcedores, já que você também brilhou com as camisas de Atlético-MG e Corinthians, além do Cruzeiro, é claro?
- Eu sempre amei a minha profissão. E neste amor pelo futebol, tive a felicidade de jogar também por Atlético-MG e Corinthians. Eu respeitei muito as camisas que vesti porque sei da alegria e do sofrimento do torcedor na arquibancada. Procurei dar o meu melhor sempre. Hoje me sinto muito honrado porque sou respeitado por todas as torcidas, o que é um orgulho pra mim.
O que representa na sua vida o título da Taça Libertadores de 1976?
- É uma felicidade imensa. Não é só um orgulho pra mim, mas pra toda minha família, que sempre torceu pra mim. Tenho uma enorme sensação de dever cumprido.


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