O tricampeão mundial Jairzinho causou alvoroço ao chegar na Toca da Raposa. Após uma rápida passagem pelo futebol francês, o atacante empolgou a torcida, mas causou desconfiança na imprensa, que achava o Furacão, então com 31 anos, velho para dar o toque especial que o Cruzeiro precisava e para substituir o ídolo Dirceu Lopes, que, com problemas físicos, praticamente não jogou em 1976.
Jairzinho, entretanto, cumpriu seu papel de líder e referência com perfeição. Em 13 jogos da campanha do título da Libertadores de 1976, foi titular de 12 e marcou 11 gols. A única ausência foi justamente no terceiro jogo da final, já que havia sido expulso no segundo, após uma confusão com o zagueiro Roberto Perfumo, do River Plate.
Neste sábado, o Cruzeiro comemora 40 anos do título da Taça Libertadores de 1976. Para lembrar a data, o GloboEsporte.com conversou com os principais personagens e lembrou fatos marcantes daquela conquista. Jairzinho é um deles, e o papo exclusivo você confere abaixo.
Você já era veterano quando chegou ao Cruzeiro, mas ainda assim fez 11 gols em 12 jogos na campanha do título. Qual foi o principal fator que te motivou?
- Eu dei continuidade à minha carreira. Sempre fui um bom profissional e quis levar alegria ao próximo e fortalecer o clube. Eu estava casado e com uma mineira pronta para nascer. Foi muito bom ter vindo jogar no Cruzeiro.
Como era a relação entre os jogadores? Vocês faziam muitas brincadeiras entre si?
- Eu sempre fui um cara muito direcionado àquilo que é mais importante, que é o objetivo a ser alcançado. Nunca fui muito de brincadeirinhas, até porque não dava tempo. Sempre fui muito sério, em busca de preservar o meu nome. Eu cheguei ao Cruzeiro e pouca gente acreditou que eu pudesse jogar o futebol que sempre joguei. Queimei a língua de muita gente.
GloboEsporte.com - Como o elenco recebeu a morte do atacante Roberto Batata, no meio da Libertadores?
Jairzinho - Eu fiquei no Rio, após o retorno do Peru. Chegamos no Brasil às 6h. O Roberto Batata só falava no filhinho recém nascido. Eu pedi para não deixarem ele pegar o carro, mas aí aconteceu aquele acidente horrível. Machucou todos nós, eu principalmente. Nós éramos muito amigos e eu dava força pra ele chegar à Seleção Brasileira, com aquele futebol maravilhoso praticado. No jogo contra o Alianza, no Mineirão, ganhamos por 7 a 1. Quando chegamos ao quinto gol, combinamos de chegar ao sétimo, para homenagear o Roberto, que jogava com a camisa 7. Eu fiz o sétimo gol.
O que aconteceu no segundo jogo, quando você foi expulso e desfalcou o Cruzeiro na grande final?
- Aquilo aconteceu por causa do Perfumo, que foi bandido. Aqui no Cruzeiro, ele era uma mãe, eu joguei contra ele. Lá no River Plate, ele era um assassino, e provocou a minha expulsão no segundo jogo. Caí na armadilha dele e fui expulso, por isso não pude jogar a decisão. Mas eu tinha a consciência de que poderíamos vencê-los porque vencemos o primeiro jogo por 4 a 1.
Mesmo de fora, qual foi a sua sensação ao ver o Joãozinho bater a falta e fazer o gol do título, quando um dos melhores batedores do mundo, Nelinho, estava ao lado dele?
- A grande anedota foi o Joãozinho bater a falta porque o especialista era o Nelinho. Ele se posicionou pra bater e o João ficou do lado da bola, a dois metros, correu pra bola e bateu. Se ele não faz o gol, a gente ia matá-lo. Ele não ia voltar pra Belo Horizonte vivo! Todo mundo chamou o Joãozinho de tudo que você pode imaginar.
Veja abaixo a imagem do gol de Joãozinho sobre o River Plate, na vitória por 3 a 2, em Santiago, do Chile, em 1976.
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