A conquista da América: Cruzeiro comemora 40 anos do primeiro título da Copa Libertadores

sábado, 30 de julho de 2016

A conquista da América: Cruzeiro comemora 40 anos do primeiro título da Copa Libertadores

Neste sábado, clube festeja quadragésimo aniversário do título continental


Quando olha para o passado, o torcedor do Cruzeiro se orgulha por muitos feitos memoráveis. Em 1976, dez anos depois de vencer o Santos de Pelé, um dos maiores times da história do futebol, e conquistar o Brasil, a Raposa foi além e dominou a América. Neste sábado, dia 30 de julho, são celebrados os 40 anos do primeiro título celeste da Copa Libertadores, uma façanha à época que apenas o esquadrão da Vila Belmiro havia alcançado entre as equipes do país.

A conquista foi marcada por jogos inesquecíveis, gols dignos de placa, estádios lotados e final contra um gigante argentino, ademais de uma tragédia que abalou a todos no meio do futebol, mas que serviu de motivação e força espiritual para o grupo, que deu a volta por cima, e alcançou um objetivo que ainda hoje é o desejo de muitos. 

Logo na estreia da competição, no dia 7 de março de 1976, um jogo considerado um dos maiores do futebol brasileiro: Cruzeiro 5 x 4 Internacional. "Podemos dizer que era um clássico. Éramos os melhores times do Brasil e da América do Sul", observa o ex-zagueiro chileno Elias Figueroa, que teve atuação infeliz naquela partida: “Individualmente, foi muito infeliz para mim. Errei em vários lances capitais. Tudo que eu procurava fazer não dava certo”, conta o ex-jogador do Inter. Por outro lado, foi um duelo inspirado do ponta-esquerda Joãozinho. “Essa, sem dúvida, foi uma das melhores atuações da minha carreira”, define o ex-camisa 10, que marcou 2 gols contra o Colorado. A vitória foi uma espécie de revanche para a Raposa, que acabara de perder, no ano anterior, a decisão do Brasileiro para o time gaúcho.

A primeira apresentação na competição foi apenas uma amostra do que seria o Cruzeiro de Zezé Moreira, que se reforçou no mercado para entrar ainda mais forte no torneio. Por causa de uma lesão no tendão de Aquiles, Dirceu Lopes ficou fora da competição. Ambicioso, o presidente Felício Brandi foi buscar Jairzinho, o Furacão da Copa, que estava há alguns meses sem clube desde a passagem pelo Olympique de Marselha, da França. 

Na primeira fase, o Cruzeiro foi dono da melhor campanha da competição. Em seis jogos, foram cinco vitórias e um empate. O desempenho ofensivo da equipe impressionava: o time celeste fez o dobro de gols da segunda equipe com melhor rendimento. Enquanto a Raposa marcou 20 tentos nos jogos da fase de grupos, o River e a LDU, que integravam outras chaves, balançaram as redes apenas 10 vezes. Muitos destes gols saíram do comando de ataque formado por Eduardo, Roberto Batata, Jairzinho, Palhinha e Joãozinho, com variações de acordo com as partidas, além do lateral Nelinho, que contava com um chute potente e apoiava como poucos.

Dando continuidade ao torneio, o Cruzeiro avançou à segunda fase, composta por duas chaves com três clubes cada. A Raposa caiu no grupo com LDU-EQU e Alianza Lima-PER. Mais uma vez, o time celeste foi brilhante: quatro vitórias, sendo três delas por goleada, em quatro jogos. Primeiro, a Raposa fez uma excursão ao norte da América do Sul e bateu os equatorianos por 3 a 1 e os peruanos por 4 a 0. Depois da volta para Belo Horizonte, uma tragédia comoveu o elenco cruzeirense. O atacante Roberto Batata morreu em um acidente de carro no Km 182 da rodovia Fernão Dias, em Três Corações. Foi a primeira vez que a sede do clube foi utilizada para um velório. De luto, milhares de cruzeirenses saíram às ruas para prestar solidariedade. A perda que poderia afetar o Cruzeiro deu ainda mais força para os jogadores que queriam conquistar aquele título e homenageá-lo.

Nelinho explica as coincidências que cercam a morte do atacante do Cruzeiro

“No jogo contra o Alianza Lima, em que vencemos por 4 a 0, no dia da partida, depois do almoço, Zezé Moreira anunciou que a escalação do time entre nós e que quem jogaria no meio-campo seria Piazza e Eduardo, com Roberto Batata na direita. Ou seja, ele estava barrando pela primeira vez o Zé Carlos, que ficou inconsolável, não aceitou. A diretoria que estava no Peru, que era o Carmine Furletti e outro diretor, também não aceitou e foram conversar com o Zezé Moreira, que falou que não aceitaria interferência, já tinha tomado a decisão e quem jogaria era o Eduardo no meio, e Zé Carlos ficaria na reserva. Ele falou, se a diretoria quisesse, que o Zé Carlos entrasse, mas que o demitisse. Os diretores ligaram para o presidente Felício Brandi, que falou para deixar o Zezé Moreira fazer como quisesse, mas que dependendo do resultado as coisas seriam conversadas em Belo Horizonte. O Zezé Moreira manteve a posição, o time entrou e foi uma das melhores partidas que o time jogou. O Zé Carlos, se não me engano, não ficou nem na reserva. E naquele momento o time fechou com o Zezé Moreira, porque os outros jogadores viram que o cara tinha personalidade. O Roberto Batata jogou bem demais. Depois, veio a fatalidade. Refletindo, seguimos à seguinte conclusão: o Roberto Batata não jogaria aquela partida, seria o Eduardo na ponta direita e o Zé Carlos no meio, mas ele acabou jogando e foi a última partida dele pelo Cruzeiro. Na volta, ele sofreu aquele desastre indo buscar a família dele em Três Corações, o que nos deixou muito tristes. Mas, felizmente pra nós, o time estava muito coeso e conseguiu dar a volta por cima apesar do baque, no jogo da volta no Mineirão metemos sete neles aqui (sobre o Alianza)”, observou Nelinho.

O Cruzeiro avançou para a decisão e enfrentou o River Plate. Na primeira partida, no Mineirão, goleada celeste por 4 a 1. Na segunda, o River venceu por 2 a 1, resultado que forçou uma terceira partida em campo neutro. O estádio escolhido foi o Nacional, de Santiago, no Chile. A Raposa começou pressionando e logo abriu 2 a 0, com Nelinho, de pênalti, e Eduardo, depois de bela jogada coletiva. O time argentino buscou o empate com Oscar Más e Urquisa. O gol do título saiu apenas aos 46 minutos do segundo tempo. Palhinha sofreu falta nas proximidades da área. Quando todos esperavam por Nelinho, Joãozinho surpreendeu, não esperou a autorização do árbitro e cobrou a falta no ângulo. 

“Eu tive maior sorte do mundo, sou um predestinado por Deus. Ninguém esperava que eu batesse aquela falta. Mas eu estava ligado no jogo. Eles tinham empatado batendo uma falta sem que o juiz apitasse. Reclamamos e ele deu o gol mesmo assim. Quando vi todo mundo preocupado com o Nelinho, o goleiro olhando ele para a barreira, o juiz também, (…) não tive dúvidas. O Nelinho tinha me falado que se passasse por cima da cabeça do terceiro homem da barreira, era praticamente gol. Acho que, mesmo que o goleiro estivesse preparado, teria sido gol de qualquer forma”, conta Joãozinho, que lembra da comemoração de todo o time, assim como da 'bronca' do treinador.

“O pior foi depois. Vibramos, demos volta olímpica, rezamos e o Piazza ofereceu a conquista para o Batata. Dentro do vestiário, o Zezé veio pra cima de mim. Tudo para ele era muito certinho, nos mínimos detalhes. Me chamou de moleque, irresponsável, falou que eu não poderia ter feito aquilo, que nunca tinha treinado e que era o Nelinho quem deveria bater a falta. Disse que eu não ia voltar com a delegação, que não poderia ter feito aquilo e então outros jogadores e o Furletti entraram no meio. No hotel a gente conversou e ele, mais calmo, aceitou e ficou tudo bem”, recorda.

Uma campanha brilhante: em 13 jogos, 11 vitórias, um empate e uma derrota (aproveitamento de 87,2%). Foram 46 gols feitos e 17 sofridos. Como mandante, seis vitórias em seis jogos. O Cruzeiro ainda teve o artilheiro da competição, Palhinha, com 13 gols. Um título para a história!



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