Reportagens do Supernotícia

segunda-feira, 5 de dezembro de 2011



Uma das forças do Cruzeiro no jogo de ontem foi contar com o apoio de sua torcida. Ter nas arquibancadas somente representantes celestes serviu de ânimo para a equipe vencer o clássico e se livrar da Segunda Divisão. A paciência seria fundamental para que equipe e torcida jogassem juntos. "Hoje é dia de apoiar. Vaias só vão atrapalhar o desempenho dos jogadores", comentou o vendedor Geraldo Carvalho, 50, esperançoso em uma vitória da Raposa antes da bola rolar em Sete Lagoas.


Em um momento decisivo, o Cruzeiro preferiu buscar um ambiente mais tranquilo na cidade de Atibaia, no interior paulista. Mas a torcida sabia que a situação era delicada. Apesar dos fracassos nas últimas rodadas, os torcedores compareceram em peso na Arena do Jacaré.


Um papel inesperado aconteceu após o empate com o Ceará. Torcedores foram até o aeroporto de Confins prestar solidariedade ao elenco. A força para reverter a situação teria que ser maior caso um protesto acontecesse no desembarque do grupo na semana passada. O apoio demonstrado deixou tudo menos complicado. A lembrança de que, mesmo de longe, a torcida estaria confiando serviu de ânimo para o grupo. "Acho que a equipe poderia ter ficado na Toca II, que tem uma boa estrutura. Foi um gasto de dinheiro desnecessário", afirmou Geraldo.


Parte dos cruzeirenses custava a acreditar na situação. Enquanto alguns se mostravam descrentes, outros esperavam uma reviravolta. "O apoio incondicional vai fazer a diferença. Espero que ninguém entre na onda de quem incitou a violência durante a semana. Isso é coisa de uma minoria", destacou o engenheiro Felipe Chiaradia. Na chegada à Arena, o presidente Zezé Perrella foi xingado, mostrando o descontentamento da torcida com a atual gestão. Um dos pontos lamentáveis foi uma bomba jogada na área de Renan Ribeiro no início do segundo tempo, paralisando a partida por alguns minutos.


Com escudos do Cruzeiro espalhados pelo estádio, a torcida fez uma bela festa. Até o "Pai Nosso" foi orado por toda a Arena. Jogar junto com o time foi primordial e os jogadores reconheceram o esforço de quem fez questão de comparecer. "Tinha certeza que a torcida faria a diferença. A atuação do time ajudou, mas com o estádio lotado e todos fazendo sua parte, fica difícil do Cruzeiro ser batido em seus domínios", comentou o cruzeirense Vitor Barbosa após a partida. A torcida ainda agradeceu, de forma irônica, ao técnico Cuca, que teve seu nome gritado antes mesmo do término do jogo.
Carreata

Percurso
Durante o trajeto até a Arena do Jacaré, foi possível acompanhar a movimentação da torcida. De carro, moto, van ou ônibus, os cruzeirenses carregavam faixas e bandeiras. A nota triste ficou por conta de alguns motoristas dirigindo e bebendo ao mesmo tempo.

"Tamo junto!"
Na porta. Cerca de vinte torcedores do Cruzeiro compareceram à porta da Toca II para manifestar seu apoio durante a saída dos jogadores para o estádio. Frases de motivação eram cantadas, principalmente para o goleiro Rafael, substituto do ídolo Fábio.

Desnecessário
Vacilo. Apesar de todos os pedidos feitos durante a semana para que objetos não fossem arremessados no campo de jogo, uma bomba foi atirada na área do goleiro atleticano Renan Ribeiro no início do segundo tempo, interrompendo a partida por alguns minutos.

Cutucada
Brincadeira. Como forma de provocação ao Atlético, flanelas eram vendidas dentro do estádio antes do clássico. O vendedor afirmou que o ideal seria vendê-las após a esperada vitória, agradecendo ao rival pela permanência na elite do futebol brasileiro.

Noventa minutos antes de começar a derradeira partida entre Atlético e Cruzeiro, centenas de torcedores do Galo já se reuniam no Botequim Maria da Fé, na Pampulha, nos arredores do Mineirão, entoando as músicas que tradicionalmente embalam as partidas do time. Além de turmas de amigos, a festa incluia casais, famílias inteiras e até mesmo uma senhora de 90 anos que, antes da partida começar, decidiu voltar à própria casa.


Entre os adereços preparados pela confiante torcida atleticana, destacavam-se alguns pequenos caixões celestes, que passavam de mão em mão, divertindo torcedores, transeuntes e motoristas que passavam pela região. Ainda que não houvesse consenso sobre as chances de rebaixamento do rival Cruzeiro, os torcedores do Galo mostravam-se certos sobre uma iminente vitória do time.


"Estou totalmente confiante no Galo, porque o Cruzeiro não tem time pra nos vencer. Nosso grande problema é depender do Ceará e do Atlético-PR, mas espero que eles façam a parte deles", disse o engenheiro Marcelo Carvalho, pouco antes da partida começar, sob intensos aplausos da torcida. Mal sabiam os torcedores que os noventa minutos seguintes, para surpresa geral, seriam bem mais complicados do que os primeiros.


Quando, aos 8 minutos de jogo, o Cruzeiro abriu o placar, a torcida parecia não acreditar. Era hora, então, de manter a confiança e cantar o Galo como time da virada. O segundo gol do time celeste, contudo, caiu como uma bomba em meio à torcida atleticana. Enquanto alguns já se dispersavam, outros discutiam sobre as possíveis causas de uma atuação tão diferente da que esperavam.


Se de início alguns lançavam a culpa sobre certos jogadores, sendo Serginho e Richarlyson os mais criticados, muitos já confabulavam sobre uma possível venda do jogo pelo próprio presidente do Atlético. "Isso só pode ser coisa do Kalil", se ouvia em todo canto.


A partir do terceiro e quarto gols, já se ouviam rumores sobre algum tipo de manifestação na sede do Galo - a caminho da qual nossa reportagem seguiu, enquanto a partida se encerrava num inesperado 6 a 1 para o time celeste.


Antes mesmo do jogo acabar, alguns torcedores de fato já se concentravam em frente à sede do time. Diante da presença da polícia, os torcedores se limitaram a vociferar contra a direção do Galo. "Dinheiro compra tudo! Se é dinheiro que vocês querem, então toma!", dizia um deles, enquanto passava algumas notas por baixo da porta de entrada da sede.


Cruzeiro e Atlético estão salvos, mas a temporada 2011 deixou alertas para as duas equipes. Lições que não custaram a ida à Série B do Campeonato Brasileiro, mas que precisam ser assimiladas para que 2012 não seja ainda mais desastroso.


Depois de anos de bons resultados no Campeonato Brasileiro, o Cruzeiro mudou a sua filosofia. Contratou quatro técnicos para a temporada e vendeu seus principais jogadores, sem reposição à altura. Resultado? Queda vertiginosa no rendimento da equipe.


Com um time em frangalhos, o presidente eleito, Gilvan de Pinho Tavares, acredita que o Cruzeiro tem que contratar e formar uma nova base para a equipe.


Ele busca destaques da Série B e também jovens promessas da Série A. Osvaldo, do Ceará, é um desses nomes. Manter jogadores como Montillo e Fábio também é prioridade para a nova diretoria.


Alvinegro
No Atlético, a lição foi outra. Nos seus três anos de mandato, o presidente Alexandre Kalil contratou muitos jogadores, deu autonomia demais aos seus treinadores e não viu o seu time decolar. Para 2012, a dica do que pode ser feito foi dada pelo zagueiro Réver, capitão do Galo. "A maior dificuldade é o rodízio de jogadores. Fica dois, três meses e voltam outros jogadores. Espero que a diretoria esteja atenta para não repetir esse erro. Dois anos passando por isso, não é fácil", alertou Réver, um dos líderes do grupo.


Chico Maia

Show de horrores e vexame sem tamanho

Nas tribunas e cabines de autoridades, a segurança para o presidente Zezé Perrella teve que ser reforçada, já que a ira da torcida contra ele estava se tornando incontrolável. Porém, a Polícia Militar vacilou e não impediu a entrada de foguetes e bombas, que foram jogados no gramado, chegando a paralisar o jogo. Nem com este ambiente de nervos à flor da pele e com desfalques como Fábio, Paraná e Montillo o Atlético foi capaz de tirar proveito da situação do Cruzeiro.



Vergonha
O time comandado pelo técnico Cuca foi um show de horrores, especialmente no primeiro tempo. Um vexame inacreditável. Displicente e descompromissado, o Atlético foi goleado por um Cruzeiro apenas mais determinado, sem nada a mais, no futebol que praticou no returno deste Campeonato Brasileiro e que quase rebaixou a equipe celeste para a segunda divisão pela primeira vez em sua história.
Meia-vida
Jogadores como Serginho e Richarlyson são como pneus estepes "meia-vida". Até quebram um galho, mas, quando mais se precisa deles, deixam o usuário na mão. Certamente, Vágner Mancini também acha isso, tanto que pôs seu time explorando as jogadas pelas pontas.
Recaída

Mesmo perdendo de 2 a 0, Réver voltou a sair jogando de forma irresponsável e concedeu a Wellington Paulista a jogada do terceiro do gol. Interessante é que, mesmo quando o jogo estava 2 a 0, aos 15 minutos, dois jogadores do Cruzeiro tomaram o cartão amarelo: Leandro Guerreiro e Roger, tamanho era o nervosismo do time.


Guerreiro e Roger foram justamente os dois melhores jogadores em campo, que, com o terceiro gol, se acalmaram. Roger não permitiu que a torcida sentisse saudade do Montillo. De novo, o Cruzeiro ganha o clássico sem o argentino.
Conversa
Desde a sexta-feira, circulava informação sobre a possível morte, por espancamento, de torcedor do Atlético que teria provocado cruzeirenses na fila para a compra de ingressos em Sete Lagoas. Ontem o delegado Regional de Polícia Civil, Oswaldo Wiermann Junior, desmentiu o boato, bem típico do interior.
Micareta
Com passagem meteórica pelo cargo de diretor de futebol do Cruzeiro, o deputado estadual Gustavo Perrella não enfrentou a mesma pressão que o pai, o senador Zezé, nos dias antecedentes ao jogo decisivo de ontem. Foi curtir o "Carnatal", um dos mais badalados carnavais fora de época do Brasil, em Natal, aonde muitos mineiros vão todos os anos.
Na média
O Corinthians mereceu o título, pela regularidade. Não é um time que dá espetáculo nem com craques que desequilibram individualmente, porém é determinado, tem conjunto e peças de reposição.
Em débito
O futebol mineiro ficou devendo. Até a penúltima rodada correu o risco de ver seus três representantes na segunda divisão. Lamentável a queda do América, que acordou tarde na disputa.
Kalil
Por telefone, o presidente Alexandre Kalil disse à rádio Itatiaia que até ele ficou assustado com o tamanho descompromisso de alguns jogadores do Atlético neste clássico. Que mande embora os que ele acha que correram menos que deveriam.

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