Especial 96: alma do time, Nonato relembra conquista: "Esse título é tudo"

sexta-feira, 17 de junho de 2016





Nonato não era apenas o lateral esquerdo do Cruzeiro campeão da Copa do Brasil de 1996. Era muito mais que isso. O potiguar de Mossoró era a alma daquele time. Líder, cérebro e referência em campo nos momentos em que a situação se complicava, ele não fugia da responsabilidade de comandar a equipe em campo. A partida final, diante do Palmeiras, dentro do Parque Antárctica, foi mais uma página heroica e imortal escrita pela Raposa (relembre no vídeo acima). Com a assinatura de Nonato.

Depois de empatar a primeira partida da final por 1 a 1, o Cruzeiro tinha que vencer em São Paulo ou empatar por mais de um gol para levar o bicampeonato. O problema é que o Palmeiras tinha uma verdadeira seleção: Rivaldo, Cafu, Djalminha, Luizão e Júnior, entre outros, eram comandados por Vanderlei Luxemburgo e tinham vencido o Campeonato Paulista com sobras, tendo marcado mais de 100 gols na campanha.

O Cruzeiro chegou desacreditado em São Paulo para a finalíssima, mas, com muita organização tática e, sobretudo, espírito de luta dos jogadores, saiu de campo com a vitória por 2 a 1, que valeu o bicampeonato da Copa do Brasil. No próximo domingo, dia 19, a conquista completa 20 anos, e o Globoesporte.com preparou uma série de matérias, com os personagens daquela história.

Na quarta parte do especial, conversamos com o capitão Nonato, responsável por levantar o troféu na noite de 19 de junho de 1996. Potiguar de Mossoró, ele foi revelado nas categorias de base do Baraúnas-RN, passou por ABC-RN e Pouso Alegre-MG, antes de chegar ao Cruzeiro, em 1990. Ficou oito anos na Toca da Raposa II e é considerado por muitos o maior lateral esquerdo da história do clube. Nonato disputou 393 jogos com a camisa azul e marcou 23 gols.Confira um bate-papo com o ex-jogador cruzeirense:


GloboEsporte.com: Quando o Cruzeiro chegou em São Paulo para o segundo jogo da final, você realmente acreditava que era possível vencer o Palmeiras e ficar com o título?
Nonato: Na realidade, a gente tinha que acreditar. Mas que era difícil, era. O Palmeiras era uma seleção. A gente sabia que ia ser difícil, mas a gente tinha que se superar. Foi uma noite inesquecível. O Dida pegou tudo. Se repetisse aquele jogo 10 vezes, acho que o Palmeiras ganharia nove. Só que nós conseguimos ganhar na noite mais importante.
GloboEsporte.com: O Cruzeiro levou o gol com cinco minutos de jogo. Você e o volante Fabinho conversaram muito para acalmar o time. Qual foi sua importância nesse momento de colocar os nervos no lugar?

Nonato: Falar de você mesmo é difícil. A minha participação começou bem antes. Foi na palestra. O Levir (Culpi, técnico do Cruzeiro) acabou a preleção dele, e o Zezé (Perrella, presidente) falou também. Depois foi minha vez de falar. Fui perguntando a todos jogadores, um por um. Dida, você se acha pior que o Velloso? Não. E fui assim em todos. Então, falei que só dependia da gente. Logo com cinco minutos tomamos o gol. Aí que foi mais importante ainda minha participação, pelo fato de estar em campo. Eu pedi calma para os jogadores porque não estava nada acabado. Bastava a gente fazer um gol para levar a decisão para os pênaltis. Logo em seguida, conseguimos empatar. Mantivemos a calma e a tranquilidade. O Palmeiras teve inúmeras chances e não conseguir marcar. Minha participação valeu de novo depois do segundo gol. Eu nunca fui a favor de dar chutão quando você está ganhando, prefiro ter a posse de bola porque você não sofre atrás. Eu ficava desesperado mandando os caras tocar em mim. Eu devolvia no Célio Lúcio, no Fabinho, no Roberto Gaúcho, e o time deles fazendo falta. Essa parte foi fundamental.
GloboEsporte.com: Qual a principal qualidade do time de 1996?
Nonato: Sem dúvida nenhuma foi a união do elenco, que era muito boa. Vieram os jogadores do São Paulo, e a gente fez um grupo muito bom em termos de amizade também. Não tinha briga. Terça e sábado tinha rachão. Era o meu time contra o time dos paulistas. Os caras que vieram de São Paulo não jogavam no meu time. Mas era tudo numa boa, criamos uma amizade muito grande. Tinha revezamento no time. O Gilmar não podia jogar a Copa do Brasil, porque já tinha jogado pelo São Paulo, então jogavam Célio Lúcio e Gelson Baresi. Foi criada uma união muito grande aquele ano.
GloboEsporte.com: Até os dias de hoje, você é um dos maiores ídolos da torcida do Cruzeiro, mesmo já tendo parado de jogar. O que significa isso na sua vida?
Nonato: Sempre quando sou convidado a ir à Toca da Raposa II para conversar com os jogadores, deixo uma coisa clara para eles. Dinheiro, a gente pode ganhar, mas ele pode acabar. Uma coisa que não acaba nunca é o prestígio de uma conquista. Pode passar o tempo que for que sempre vão lembrar da Copa do Brasil e da Libertadores que ganhamos. Sem dúvida nenhuma, esse título é tudo. Eu saí do Cruzeiro em 1998, e onde eu vou sou reconhecido. Os torcedores pedem para tirar foto. Não há dinheiro no mundo que pague isso.GloboEsporte.com: Você ainda tem contato com os jogadores campeões da Copa do Brasil de 1996?

Nonato: Na realidade, tenho contato com quase todo mundo. Sempre que eles precisam de alguma coisa aqui em Belo Horizonte, eles me procuram. Semana passada, conversei com o Palhinha, que está lá em Boston, nos Estados Unidos. O Marcelo Ramos, sempre que vem aqui, fala comigo. O Roberto Gaúcho também. Meu relacionamento com todos é muito bom. Pelo fato de eu morar em Belo Horizonte, a facilidade é maior. O Cleisson mora em Fortaleza e sempre me liga. Quando vem aqui, a gente se encontra. É uma amizade que passou para o lado de fora dos gramados.


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